
Nas palavras de Mário Quintana observamos uma relação entre mentira e verdade muito peculiar. Afinal, se a suposta mentira tivesse se lembrado de acontecer seria ela uma verdade. Aliás, ele afirma que a mentira é uma verdade e a única distância que Quintana põe entre mentira e verdade é o acontecimento.
Seria a mentira ausência pura e simples da verdade?
Mas na verdade, o que é verdade?
É só a mentira que existe, ou, é mentira que não existe a verdade?
Acho que começamos a ficar confusos. Então, dividiremos o assunto tornando-o mais didático, porém, não menos complexo. Porque, embora aconteça a separação temática, sempre ocorrerá uma oposição entre verdade e mentira, não é mesmo?
Vamos lá. Desça sua barra de rolagem e vamos ao primeiro texto "Ops! Mentirinha..." e depois ao segundo: "Verdade?".
Creio que você vai gostar. Verdade! Não, não é mentira... Ah! Mê dê um crédito, vá?
Ops! Mentirinha...

Somos educados para dizer a verdade, pelo menos pensamos que sim, porém a mentira é sedutora. Capisciosa. Quem nunca mentiu atire a primeira pedra.

Não fazemos conta das "desculpas" diárias que damos para as pessoas e para nós mesmo numa fuga incessante de assumirmos nossas responsabilidades. Essas desculpas diárias não são contabilizadas como mentira, afinal são "desculpas". Mas, muitas delas, não são baseadas na verdade.

A mentira vicia. Ela pode propiciar uma fuga sem precedente da vida. Mas não é um caminho sem volta. Podemos experienciar a vida um dia de cada vez e dizer: " Só por hoje eu não menti".
Verdade?
Fio fino e frágil este com que tecemos verdades: o que é verdade para mim não necessariamente pode ser para outrem. O que acreditamos ser verdade hoje, amanhã pode não ser. Uma mentira bem contada, repetida várias vezes, pode virar uma "verdade".
Num fio da verdade há duas pontas: numa ponta há você e na outra ponta há o outro. E este outro quer ouvir a verdade que você julga ter? Refletir sobre o outro é bem interessante porque antes podemos observar se o que temos a dizer será útil, se vai acrescentar em alguma coisa na vida da outra pessoa, sobretudo se eu tenho o direito de dizer a minha suposta verdade. Porque percebo que em nome da verdade, muita gente é arrogante (afinal, sou dono "dela"), grosseira, como se para dizer algo verdadeiro não coubesse gentileza, educação, amor.

Mas espere! A verdade não deve ser dita em qualquer circunstância? Se eu escolho conscientemente não falar mentirinhas, desculpas que parecem inocentes, se for desfazer um mal entendido, se for desmentir algo que possivelmente eu mesmo alimentei. Sim! A busca consciente da verdade é fundamental. Falo busca consciente porque às vezes da boca para fora exigimos a verdade, mas inconscientemente pedimos: "por favor minta pra mim, minta pra mim..."
Ao dizer “eu odeio mentiras”, pense se não odeias também a tua parte que mente. Ou: “ eu falo a verdade, doa a quem doer”, reflita se a verdade que te dói não ficou calada e aquela que foi jogada no ventilador doerá sabe-se lá Deus em quem...

É improdutivo o uso da verdade como uma arma mortífera, como algo que se possa lançar na cara de outro, como uma torta de filme pastelão, ou como objeto de barganha. Por outro lado, se é inevitável receber a verdade, porque esta aparece mais cedo ou mais tarde, aceite-a, quando nada, trará libertação, mesmo que doa, acredite.
A mais exata oposição entre verdade e mentira é que a verdade liberta enquanto a mentira aprisiona.







