quinta-feira, 17 de junho de 2010

Aniversário




Em relação à etimologia da palavra aniversário, ela vem do latim anniversarius, [anni = ano; vers = que retorna; arius = data] que significa "o que volta todos os anos ou o que acontece todos os anos."

Quanto ao costume de comemorar o dia do nascimento de alguém, segundo estudiosos, tal prática teve início em Roma: “Esta solenidade, que se renovava todos os anos, era festejada sob os auspícios do Gênio que se invocava como a divindade que presidia ao nascimento das pessoas. Costumavam erguer um altar sobre a relva e o cercavam com ervas e plantas sagradas. Junto desses altares as famílias ricas imolavam um cordeiro”*

O nosso conhecido bolo de aniversário, por sua vez, originou-se na antiga Grécia, quando se homenageavam, no sexto dia de cada mês, à deusa Ártemis. Tal festa era realizada com um bolo cheio de velas que simbolizavam a claridade da Lua que se espalhava à noite sobre a Terra.

Bom, não é preciso dizer que com o passar do tempo um evento se misturou com o outro e aí... Temos o que temos até hoje. Juntando ao “o que volta numa data todos os anos”( que hoje é data do nosso aniversário) e a tradição do bolo com velas, vem a tradição do presente para o nascituro, que foi descrito no nascimento de Jesus, inclusive. Se é para reviver o seu nascimento, natural que você receba presentes. De novo. Melhor do que imolar um cordeiro, você não acha?

Estou falando de aniversário porque faço aniversário dia 14/06. Sim, desde de 1964.

Não. Não fiz bolo. Não fiz ornamentação nenhuma, nem tão pouco com ervas sagradas ou coisa que o valha. Meu aniversário teve um sabor diferente dos últimos dois anos: em 2008, na véspera (13/06), recebi a notícia oficial que eu estava com linfoma. Em 2009, passei com amigos. Porém, na onda da quimioterapia ( eram mais ciclos para fazer além do que eu tinha feito) e depois rádio... Eu não estava muito EU. A quimio faz isto: rouba um pouco de você de você mesmo.

Chegado 14/06/2010. Seria justo, justíssimo, uma comemoração de arromba, no entanto escolhi ficar em casa com meus filhos. Um almoço simples ( macarrão com três queijos, rs). Um lanche gostosinho com direito a queijadinha e uma ervilha bem quentinha à noite.

Nossa! Eu estou aqui! Foi o que eu pensei. E não “é o que volta todos os anos ou o que acontece todos os anos”desde da data do meu nascimento. É meu nascimento neste exato momento em que escrevo. É meu nascimento no exato momento que recebi o resultado da minha remissão. É meu nascimento a cada nascimento de um filho. É meu nascimento quando sou chamada de amiga, irmã, filha, mãe, quando respiro profundamente e penso: estou viva! Tive e tenho tantos (re)nascimentos diários que estou instituindo o “dieversário”: o dia que volta para o próprio dia. Comemorar, experenciar, viver o dia.

Viver o dia. O a g o r a . É possível viver o agora? Quantos de nós conseguem liberar o passado? Quantos de nós estão deixando tudo para o futuro, neste exato momento? Neste agora!

Pois este foi meu grande presente de aniversário: um grande e lindo agora. Olhar para tudo como se tudo fosse inédito. E é!

Ah, quanto ao bolo... hoje, depois do jogo do Brasil com direito a velhinhas... quinta no curso de informática… final de semana, talvez... Mas dia 27/06 é certo: meu aniversário e de meu pai, sempre a família comemora. É. Parece que eu gostei mesmo dessa história. E está tudo bem gostar, curtir, aproveitar, sentir, viver. Agora é hora e a hora é agora.

Um abraço. Felicidades a todos os aniversariantes de todos os dias. E voltaremos a falar sobre esse tal de “agora” em outro momento, com certeza.


Rio, 15/06/2010


*Dicionário da Mitologia Latina. Spalding, Tassilo Orpheu. Editora Cultrix. São Paulo, 1972 – p. 159).


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