segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Palavra

Quantas vezes já ouvimos dizer que as palavras têm poder? Repetimos sem perceber o que isto significa exatamente. Lembramos disso quando não queremos que algo aconteça. Mas o mesmo não fazemos quando queremos que algo se realize. Se sabemos da força das palavras por que não a usamos adequadamente? Na verdade o poder é nosso e é difícil acreditarmos que seja possível sermos criadores da nossa realidade e que podemos imprimir energia naquilo que queremos atrair. A palavra proferida já traz, de uma certa forma, a energia da coisa realizada se assim desejarmos.

Por outro lado, embora tenhamos o poder, a palavra em si também possui o sua própria energia. Ela absorve desde a sua concepção toda vibração do uso: ecoado o som ela acumula sentido e se materializa na escrita, carregando o contexto histórico, filosófico, antropológico, social, cultural, agentes emocionais e psicológicos. Pensando assim, a palavra tem poder, mas o poder, que na sua história, fomos nós que imprimimos.


Entretanto, às vezes a palavra parece criar vida própria e domina sem cerimônia o seu usuário. E ouvimos comumente: " não sei o que aconteceu... a palavra escapuliu da minha boca..." e lá se vai, depois de saltar do falante sem filtro, a palavra . Sem dó nem piedade ricocheteia pelo ar tal qual folha seca em dia de ventania. E ela escolhe o destino mais nefasto de todos, que é o de bater em cheio em ouvido alheio, levando toda a carga contida de energia acumulada no tempo e no espaço.

Situação sem jeito essa. E não tem como corrigir o estrago. Uma vez lançada ela não saltita retornando para a boca de origem. Não, porque quando isto acontece, seja como for, onde for, ela infla e não podemos mais engoli-la. Mesmo com a ameaça de: "vou fazer você engolir o que disse!", nunca, jamais, em tempo algum, foi visto se realizar tal proeza. É um desconforto sem fim: se você tenta consertar a emenda fica muito pior do que o soneto.


Pensando nas implicações de futuras situações delicadas que o mal uso das palavras (ou a falta de uso) traz, nas saias justas criadas, quando delegamos o nosso poder àquilo que deveria ser instrumento sagrado para expressão da nossa alma: não se desanime, todo mundo já passou por isso, então:

Desculpe-se. É o jeito. Policie-se. É um caminho.

Cale-se quando não há nada de bom para falar. Só não se cale demais, pois as palavras não gostam de ficar muito tempo guardadas.

Fale quando há coisas construtivas a dizer. Só não fale demais, destrambelhadamente, porque as palavras gostam de ser degustadas, ouvidas, absorvidas.

Aproprie-se das palavras: você é o veículo delas, você é o poder.

E, sobretudo, relaxe. Tire um tempo, use as palavras para falar de nada e coisa nenhuma. Afinal, as palavras também gostam de brincar.

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